quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Ponto de Partida

É dada a largada e me sinto como o Bolt. Tá, você pensou "que convencida". Calma. Você já viu a largada dele? Ele sai atrás de todos demais corredores. Depois, ele ultrapassa. Mas minha comparação vai até a largada. Sabe por quê?

Eu imagino que esse cara, algum dia, mesmo largando devagar, ele continuou largando. (Estranho esse verbo - até porque o que eu quero dizer é sobre "persistir", "dar início", não desistir... Mas é isso, cê entendeu? rs...).

E, sim, eu dei a largada. Até esqueci de registrar. Mas voltei a correr em Agosto, um ano e 8 meses depois do acidente. Mas não pense que é corrida. Corri 3 minutos hahahahaha... Hoje, a 15 dias de completar 2 anos do pulo na pedra e espatifamento do calcâneo, corro de 10 a 15 minutos (acho que já posso correr mais, mas falta pulmão rs). Isso, aliado à natação, pilates, faxinas, caminhadas pro mercado, pegar eventualmente meus sobrinhos no colo. Simples? NÃO! Há um ano isso tudo parecia impossível.

Muitas coisas nos parecem impossível, tantas, que, para elas, nem "damos a largada" (largamos mesmo!!!). Talvez nos falta dar mais largadas, mesmo que não consigamos o que idealizamos como "objetivo final", ou até mesmo o que outros apontam ser o alvo ideal de determinada 'pista de corrida' ou competição. Tentar não machuca (vamo lá: não me refiro a tentar voar de um precipício, ok?! rs). Sempre me senti diferente, porque em algum momento, desde bem cedo notei que as pessoas não se dão o trabalho de sonhar. Afinal, "pra quê?" Uai, pra viver, se divertir, tentar, lutar, se frustrar e levantar outras possibilidades, abrir portas, encantar-se!

Eu dei minha largada na corrida, e não sei até onde vou. Mas já sou feliz por ter dado a partida. É bom, provar do que se tenta, ainda que por poucos minutos. É presente, é graça. Minha sugestão é que todo dia seja um ponto de partida - que não gere ansiedade, mas que seja um pequeno sonho, uma pequena tentativa: uma nova amizade, um projeto, um livro,
um sorriso, uma dieta, uma receita, um esporte, um poema, uma carta, um curso, uma foto, um momento de meditação...

Sabe qual o problema? É que, às vezes, nos frustramos porque colocamos todo o nosso coração no que fazemos, nessas tentativas. Frustramos e daí não tentamos mais. Oras, o problema não é o tentar, é o que tentamos se tornar algo mais importante do que deveria em nosso coração! Então, só esse cuidado se deve tomar, pra não tornar algo maior e, depois, pesado, do que realmente deve ser. 

Eu voltei aqui, a um dos meus pontos de partida: escrever! Tão bom! E sim, parei no meio do caminho, e ainda posso parar mais vezes, mas posso também dele partir de novo... E pronto: sem frustração. Tá tudo bem. E aí, partiu?!


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Sendo eu meu próprio herói

Vai, vamo lá. Mais uma história. Dessa vez, a meditação se passou em três momentos diferentes. E daí juntou, misturou, fez aquela farofada e tá saindo aqui, assim... meio... né?! E oh, já digo: a ordem não é cronológica, mas por relevância. Cêis vão entender... sigam comigo!

PRIMEIRO ATO: "Eu posso fazer!"
Vem cá, me diz: no esconde-esconde, você era daqueles que se salvava ou ficava bonitinho escondidinho se esquivando pra tentar salvar o mundo? Pois é... hoje eu estava no parque e quase fui atropelada por um guri porque - incrivelmente - crianças ainda brincam de esconde-esconde! Quase saindo, perto de uma entrada lateral estava um remanescente que, certamente, queria salvar o mundo. O legal é que, não sei se já notaram, mas o momento de salvar o mundo é quando tá rolando aquela desilusão geral da galera, que meio que não sabem onde o último está, estão tentando lembrar quem falta, mas já desistiram de esperar e só querem brincar de novo... Daí me peguei pensando que essa brincadeira envolve muito a autoestima! Pensa bem... Eu mesma acabava no meio da rodada indo me salvar, porque algo me dizia que "eu não vou conseguir salvar o mundo" - e acho que, às vezes, pensava isso por ser menina (quando que uma menina é mais rápida e salva o mundo? Se bem que já salvei sim... kkk). Horrível isso! Outra coisa: quando alguém salvava o mundo era tipo "Uauuuuu, cara, esse(a) aí é demais! Salvou a comunidade dos amigos" Tipo "ele/ela me salvou", principalmente se você tinha sido pego por último. E quem salvava era sempre "Aew, ferrei o cara que tava contando, ele vai ter que contar de novo".


SEGUNDO ATO: "Eu sei fazer!"
Estava eu, numa bela manhã de sábado que se inicia com a rotina de levantar 7 da matina para nadar, já na piscina e comecei a me alongar. Uma professora, que estava substituindo a de sempre, começou a orientar o alongamento. Sendo uma das poucas atividades que posso fazer no momento, nadar tem sido um escape e, como sempre nadei, nesses meses, eu mesma tenho feito meu treino. Meu primeiro pensamento foi: "Eu sei fazer.". Dai ela passou um exercício muito diferente! E incrivelmente bom! Então pensei comigo mesma "Vai aí, sabichona, esse aí você não sabia. Sempre metida a achar que sabe fazer tudo." kkk... Após minha auto bronca, em que meu mau-humor matinal tomou forma, virou gente e me deu uma alfinetada, admiti... vivo como se soubesse tudo e a verdade desmascara: sei de nada!

TERCEIRO ATO: "Eu consigo fazer!"
Por algumas semanas, daquelas que o Sol não tá muito em sincronia, nem os planetas alinhados, várias coisas entraram em colapso em casa: meu chuveiro, a tranca da porta... e uma delas foi a pia! A minha pia da cozinha caiu, descolou a cuba! Após um episódio de ofensa do cara que ia consertar, decidi: quer saber, eu consigo fazer! Não deu outra, arrumei tudo, assisti um tutorial, comprei tudo que precisava, desabafei a ofensa, compartilhei orgulho e fiz... Ta aí, provei, posso fazer!!! Na semana seguinte quis provar mais: montei um móvel sozinha, sozinha! Não preciso de ninguém!!! (Fala aí, diz que nunca se achou assim?! E pensou: sou meu próprio herói!!!) Meu próprio herói...

Santa humildade ein! Me diz então, cadê esse herói quando o mundo cai, quando o desespero bate, quando o chão some, quando não pode fazer nada?! Quando se depende de outros, quando não se tem resposta?  E quando, mesmo com todas as forças, recursos, positividade e ideologias unidos ainda não consegue?! Que herói que nada... Onde estava esse herói? Só se foi no ar, imaginando que a capa de toda essa segurança fosse virar asas, porque o chão foi bem duro...  E essa é a realidade, toda vez que banco o herói, dá nisso, ou melhor, não dá! Talvez eu às vezes não reparo, quando são situações menores, porque nem sempre me resulta em um osso quebrado com um longo tempo de repouso para reflexão, mas... me despedaça, porque, de alguma maneira, eu queria ser essa imagem que tenho de mim mesma... Por que fazemos isso? A sensação é de que nos afastamos daquilo que deveríamos ser e do lugar onde verdadeiramente deveríamos estar... Não somos heróis.

A verdade é que todos queremos salvar o mundo, todos os dias, mas preferimos salvar a nossa própria vida mesmo... Não percebemos que, quando tornamos a tarefa apenas individual, além de pesar, a pressão psicológica é talvez mais tensa do que lidar com "onde se esconder para ficar salvo e fazer tudo no tempo certo". Além disso, achamos que podemos, quando nem ao menos sabemos o que acontecerá daqui 30 segundos! E não só isso, achamos que conseguimos e construímos uma autoconfiança vergonhosa! Que forma de vida arrogante vivemos e nem vemos!

Ainda que eu possa, saiba e consiga, se eu fizer, não o fiz sozinha. Verdade, Salvação e Poder, nada disso é humano... E essa é minha conclusão.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Coisas pelo chão

Tá, organização nunca foi meu forte. Não essa "padrão", sabe, "tudo no seu aparente devido lugar" rs... Desde que me lembro, nunca me incomodei com coisas pelos chão. Até mesmo acho que algumas, eu mesma coloco assim espalhadas... Meias, chaves, livros, copo, mochila, papéis, chinelo...   Alguns tem mania de suspender e elevar as coisas. "Isso não pertence ao chão". Outros acham que não é natural, ignorando que na natureza o cair ao chão gera vida. Bem, esses incômodos ou essas manias nunca foram minha realidade. E, além de não me incomodar, e eu até mesmo me utilizar do chão como armário informal, diria que eu não me importo tanto com ele assim. Pelo menos não até a última sexta-feira. Ao olhar coisas pelo chão, fui surpreendida!

Calma lá! hahaha...Não era nada novo. Nada que já não estivesse lá há um tempo. Talvez todos os anos esteve ali. Mas até então, eram apenas "coisas pelo chão". Sabe aquele momento em que, por alguma razão, paramos e começamos a olhar no chão sujeiras, detalhes, piso, rejunte, formigas, folhas, flores... Então... Mas, ainda assim, esse parar e reparar algo que nunca havia visto não significa que elas ganham valor ou sentido pra gente. Pensa bem, pensa bem mesmo... Já percebeu que às vezes olhamos coisas à nossa volta como "coisas pelo chão"? Vemos, mas pouco nos importamos...

Certa vez, comentei com um amigo "nossa, olha como tem o carro X aqui". Ele me disse que eu tava enganada, que, na verdade eu havia tomado conhecimento daquele carro - o qual meu pai havia acabado de comprar - e, assim, ganhou sentido e notoriedade para mim. Não é que havia mais dele, mas eu reparava nele mais que em outros agora, pela proximidade e pelo significado relevante (podia ser meu pai passando! rs). E foi isso o que acho que aconteceu com a surpresa que vi ao chão...

Estão curiosos? rs... Eram "coisas de árvore". É. Isso aí. Nem semente eu, antes, reparava que eram. Mas, como muitas coisas na vida, a relevância não está no "o que" mas no "por que", então... por que elas só fazem sentido agora pra mim? Por que a surpresa? Porque há pouco tempo que ganharam importância. Sementes de Ipê. Sempre vi e admirei essa árvores de flores amarelas em frente de casa. Minha mãe já cansou de me falar desse ipê... Suas sementes, neste mês de outubro, e em todos os anos morando na mesma casa, sempre caíram ali, pelo chão. Quantas vezes passei por elas sem as reparar!

MAS agora que a ideia de plantar essa árvore se tornou significativa para mim, há poucas semanas, ao ver meu quintal forrado por suas sementes - as que eu procurava - WOW!!! Sensação de ser presenteada, meu coração acelerou até! rs Que demais! Fiquei extasiada! Foi assim que as sementinhas dos ipês me ensinaram uma coisa: o olhar vai além do enxergar, ver, perceber, observar... Algumas coisas na vida, vão pelo chão, estão sempre ali, na nossa passagem, e até mesmo em pontos de parada cotidianos. Porém, algumas delas, em um momento único, específico e apropriado, ganham todo um novo sentido. Ao olhá-las, nesse novo momento instaurado, ficamos extasiados, como um presente não esperado...

Essa sensação é boa demais. E não há planejamento, nem estratégia, nem organização que preveja isso. Elas acontecem. Apenas deixemos nossos corações abertos....

Nesse ano, não foram só as sementinhas de Ipê que ganharam novo significado. Muito do que eu via e com que estava acostumada a me deparar pelo caminho, tornaram-se presentes e tomaram meu coração de maneira indescritível. Essas sementinhas eu guardo bem dentro do peito, mesmo que como "coisas pelo chão", elas nunca mais perderão tamanho significado que agora têm para mim. E deixo-as livres como são, naturais como as encontrei, bem onde estão. Não sou presa a manias, nem me incomoda tê-las pelo caminho. Algumas, eu mesma ali deixei. E, como disse, nunca precisei de organização.

Aos bons entendedores ;)


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

De pernas pro ar

Não foi há muito tempo, parece... Ainda que tenha sido. Me encontrava ali, refugiada numa cama de hotel, salva do calor de Recife pelo ar condicionado, com as pernas pro ar apoiadas na parede após fazer o usual tour de "aproveitamento da oportunidade de se viajar a trabalho". Algumas da tantas memórias eu relembro quase que nitidamente. Como essa.

Eu já viajava há quase dois anos, a trabalho, em 75% dos meus fins de semana - e quando tirava férias era até mais intenso... A vida de idas e vindas era a rotina. Não usual era o basquete de terça e quinta, o mercado da segunda. Esses tinham a função de eu não viver tão a parte do mundo, me lembrando que os dias da semana existiam. É espantoso olhar o que eu vivia. Sim, espantoso. Ainda que haja uma plateia a elogiar e querer essa vida, e hoje, parada, perguntam quando eu volto àquela "rotina", o que eu vivia era muito louco. Talvez admiram as fotos, a liberdade de se ir e vir e voar e viajar... Eu também admiro, e é muito lindo. Mas... tem sempre o "mas".

Hoje saí andando por uma tarde bem quente aqui na cidade, na qual, agora, não sou visitante, mas moradora. Tão quente que, ao sentar no parque - eleito meu ponto de parada diário atualmente -, lembrei daquele momento em Recife. Lembrei do ângulo em que via minhas pernas apoiadas na parede, e também do meu pensamento em meio àquele refresco quando se sai de um calor intenso. Eu olhava meus pés, esses que hoje ainda me aguentam, sem imaginar que um deles estaria na resposta do que eu me perguntava: "até quando?"

No coração, ainda que extremamente grato pela experiência, um anseio carregava dentro de mim. Desses que a gente só ouve quando está bem em silêncio e parada: "quando vou finalmente parar e descansar e pertencer a algo que realmente me contenha?" Você já conheceu essa vozinha que existe aí dentro de você? rs... Ela me acompanhava constantemente, mesmo em momentos felizes e incríveis. Mas, naquela tarde eu decidi conversar com ela, assim mesmo, de pernas pro ar. E é assim que, ao iniciar o diálogo com essa pergunta, ficamos: de pernas pro ar. Ela mexe demais com o que somos...

Eu deixei toda a ansiedade me consumir. Chorei. Questionei. Ansiei por um dia me encontrar em uma rotina normal, com coisas simples e verdadeiramente 'cotidianas'. Experimentava coisas que considerava - e que muitos consideram - grandiosas demais, em tão pouco tempo... A preocupação que as pessoas tinham quanto a minha vida era quanto à companhia - ou melhor, a falta de uma. Ficava muito sozinha. Mas, essa era a parte que menos importava pra mim. E, na maior parte do tempo, era até o mais legal! rs... Porém, algo em mim queria parar um pouco, assimilar... Onde eu estava indo? Seria assim até quando?

Em meio ao diálogo, comecei a rir, mas a rir muito sozinha , como fiz ao lembrar no parque, e como estou fazendo agora escrevendo hahahahaha... (isso era algo comum nesses momentos que eu tinha). Eu ri pensando o quanto eu ia/vou desejar aquele momento quando tivesse três pestes na minha frente gritando, ranhentos e e eufóricos pra criar, em meio a mamadeiras, birras... (E pensei isso lembrando da minha cunhada Clá, a mulher mais guerreira que conheço e tanto admiro... um desafio de vida seguir seu exemplo, criando essas minipessoas especiais da minha vida tão bem e educadamente!). Ah... "eu vou querer me teletransportar para cá", foi o que eu pensei.

Foi assim que o diálogo acabou bem. E sempre vai acabar bem, porque sempre chego à conclusão de que tem tempo pra tudo nessa vida, seja qual for o momento que eu estiver vivendo, se eu puder ter esse meu ponto de parada e diálogo com a vozinha que incomoda! Hoje, já experimento essa verdadeira esperança de que tudo vai fazer sentido. E,  desde que tive o primeiro ponto de parada - bem forçado e acidental -, já tenho compreendido muitas coisas, processado muitas outras... E cada dia algo a mais faz sentido, se completa na história, e responde anseios antigos escondidos em memórias tão nítidas à minha vida.

Hoje, no parque pensei: "quem sabe, quando eu chegar em casa eu não coloque minhas pernas pro ar pra variar...". Ainda não tenho as 3 pestes, mas já tenho o sentido de estar onde se deve estar que me perguntava naquela tarde quente. E, enquanto tiver um ponto pra parar, literalmente ou não, de pernas pro ar, poderei dialogar com o qualquer coisa que me incomodar e descansar (principalmente se alguém ligar o ar kkk).





segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Eu não dou conta do faz-de-conta

Dizem por aí que os contos de fada prejudicaram a mentalidade das meninas, que esperam dos homens, um príncipe. Muitas, hoje já mulheres, se frustram por ver que na realidade não é bem assim o mocinho... No meu caso, deve ter sido diferente. Acho que não me encantava tanto com o príncipe, mas me fascinava com o mundo encantado em que as histórias se passavam... Se algo me frustra, é chamarem minha atenção mais pro mundo destruído que para o fantástico em que a gente vive... Sim... O mundo que a gente vive é SURREAL, e além de mostrar isso pra quem eu puder, gostaria de tornar mais visível a quem desconhece.

E, foi pensando nisso, que eu descobri que não dou conta. Como sabem, voltei a andar, e a sensação é que agora eu to retomando a trilha, mas o equipamento não está certo pra mim... Algo na bota me incomoda, uma pedra, uma meia mal calçada... Sabe quando a gente olha aquela subida quando já se esperava estar terminando a trilha? Falta fôlego, físico, disposição. Não, não era para eu já ter cansado assim, afinal - como muitos têm me dito - "você não fez nada, só descansou 5 meses!". Que seja a falta de forma, estar fora do ritmo ou a fraqueza instaurada, seja o que for: não dou conta.

E ao saber disso eu paro, sem descarregar o peso, olho pra vista sem conseguir admirá-la. Tudo me chama a parar. Será que não estamos perdendo o que importa nas frestas, nas vírgulas e nos intervalos? Eu peço desculpas, e que me chamem de fraca, mas não vale subir ao monte se o que se quer é a conquista. Cliché, mas se o que vale é mesmo o caminho, que eu me perca nos trilhos, encare a noite na floresta, mas valorize a espera do que seguir o fluxo de turistas doidos que atravessam, tiram as fotos e se apressam...

Agora, meu coração quer aquela paz do conto de fadas, de saber que tudo termina bem, que o vilão vai preso, quero a alegria, as danças, o clima, a calmaria, o céu estrelado, o cavalo alado... Em mim residem vivos: o mar, o céu e as montanhas. Eu fui lá, eu vi. O mundo encantado existe. E nele não há pressa, nem promessa... Há histórias, aventuras, e as mais belas surpresas de enredo.

Eu não dou conta de viver descrente. E sendo assim, continuo a trilha certa de que a satisfação está nos dias que já vivi e estou vivendo, não no que eu consegui ou não ser. E sendo assim, prefiro crer no sapo, do que em um humano fazendo dar tudo certo. Afinal, bem sabe ele viver bem na água e na terra. Quanto a mim, caberá mesmo aprender com o sapo a viver no mundo um mundo que para alguns é invisível.


quinta-feira, 28 de maio de 2015

Caminhando...

O ponto de parada ficou meio parado nesses últimos tempos, confesso... Mas é que EU que comecei a me movimentar. Sabe aquele descanso em que se está extremamente cansado, após uma pesada e intensa subida, com pernas bambas e músculos antecipando as dores que vêm em seguida? É aquele momento em que você olha para trás, vê o que já caminhou e, só então, percebe o suor pelo corpo e o peso potencializado às costas. Pois é... e depois, olhamos ao que se evidencia à nossa frente: a retomada! No meu caso, foi ela que tomou minha atenção e dedicação nos últimos dois meses: reaprender a andar, dar um passo por vez, administrar mente e físico, olhar melhor o caminho...

Eu andei por muitos caminhos antes de parar aqui. Como sabem, eles fazem parte do que sou hoje e do que consigo compreender sobre minha forma de ser. Porém, pode ser que só agora, depois dessa vivência estática, que eu realmente tenha encontrado o que valha a pena se trilhar... Ao olhar meu pé - marcado, fraco e bem dolorido pela tendinite que veio pra dar aquela emoçãozinha a mais na nova etapa da minha recuperação - me recordo do que já fiz, e que bom que fiz antes do acidente acontecer! rs

Quem é besta de olhar pro pé e se achar forte? Normalmente, olhamos nossos braços, nossa inteligência, nossas habilidades, nossos feitos e nossas realizações. Pois é, eu olhava pra tudo isso. Mas hoje olho para minha cicatriz. Ali dentro tem uma placa de aço e sete pinos. E, ironicamente, isso é sinal que ele é fraco, mesmo com todo esse aço. E, às vezes eu penso que toda essa reparação não era pro meu pé apenas. Certamente, eu aguentava correr mais, carregar mais peso, me equilibrar mais, e mancar menos rs... Entretanto, não me era claro o porque eu corria tanto, ou a natureza dos pesos desnecessários que carregava, e o desequilíbrio que não se manifestava. Contraditório, mas acho que eu mancava mais.

Mas agora tô caminhando. Talvez todo esse aço pare de me incomodar um dia. Pode ser que um dia eu nem me lembre de olhar o que realmente me sustenta. E olhe pros meus braços, inteligência, habilidades, feitos e realizações. De novo. A gente se esquece fácil da coisas, não é verdade? Conto com essa possibilidade - mesmo com uma evidente cicatriz -, porque não seria a primeira vez. Porém, quando estiver lá no Caminho, do qual sou mais consciente agora, após uma longa, pesada e intensa subida, com músculos doloridos, suor escorrendo e pernas bambas, lembrarei do meu pé de aço. Não para culpá-lo, justificar o sedentarismo ou a dificuldade da caminhada, mas para parar, ganhar novo Fôlego e simplesmente descansar, pois o que carrego é leve e, hoje, a minha Força é outra - se manifesta quando sou fraca!

Pode me perguntar como eu ando. Te falarei a verdade. Estou caminhando... Ando devagar ("porque já tive pressa"- seria muito cliché falar isso né? rs... ou "eu não vim até aqui pra desistir agora"), devagar enxergo melhor o caminho. Tenho por companhia certas dores, elas me fazem lembrar que estou viva. Esse para mim é o sentido de tudo, é a Verdade, o Caminho e minha Vida a partir desse ponto de parada.

Que minha marca agora não seja minhas mancadas ou minha cicatriz, mas eu apontando essa boa, agradável e verdadeira Direção para quem encontrar na caminhada...



segunda-feira, 30 de março de 2015

Os sábados de minha infância

Sábado é dia de acordar tarde. Hoje lembrei do que era sábado para mim antes. Era dia de ir no bosque, dia de lavar carro e quem sabe, deitar no tapete ouvindo música no som pra descansar. Essas são as memórias que eu tenho dos sábados quando eu ainda era criança. E neles, a figura do meu pai predomina.

Foi num sábado que eu caí e bati meus dentes de leite aos 8 anos. Foi num sábado que quebrei meu braço pela primeira vez aos 6 anos. Foi num sábado que abri minha sobrancelha em alguma manobra esquisita pra secar meu cabelo e me encontrando a testa na pia. Nesses sábados, meu pai me socorreu.

Foi num sábado que fui na feira comer pastel pela primeira vez. Foi num sábado que ganhei cortinas rosa no meu quarto, mudei a mobília de lugar e fiz qualquer arte de papel e retalhos pra dar pra família. E em todos esses momentos, meu pai estava lá.

Mas de todas essas memórias, a mais forte é a de eu no quintal, ajudando a lavar os pneus - porque meu pai, conhecendo a filha, não deixaria esfregar arranhando a lataria... Hoje sei que além de gostar de qualquer atividade que envolvesse água, eu amava a companhia do meu pai. Era nosso momento. Sinto que, de alguma maneira, foram nesses sábados que comecei a conhecê-lo. Conhecer seu jeito de falar, de fazer tudo com excelência, de fazer com todo o coração, mesmo que fosse só a tarefa de limpar uma sujeira. Nesses momentos que eu levei aquelas primeiras broncas agitadas, que eu aprendi a zoar e brincar que nem moleque, jogando água, sabão no olho... Provavelmente, foi nesse quintal que levei meus primeiros tombos e escorregadas. Mas sempre estava tudo bem. Ele estava lá.

Quantas memórias a gente só lembra quando pára... Nessa semana é provável que eu seja liberada para começar a pisar, e minha ansiedade está a mil. Talvez da mesma forma como ansiava por aqueles sábados chegarem. Esses últimos três meses foi como sentir que estava sentada, aos pés das rodas do carro, meio sem saber direito o que estava fazendo, mas com fato a fato aos poucos trazendo sentido e construindo história. O sentimento é que foi 'sábado' aqui. E meu pai estava, como sempre, ele e minha mãe estavam. Mas algo me diz que não só eles: também a felicidade repleta de um belo sábado com ótimas experiências. Um sábado do qual vou certamente sempre lembrar, o qual nunca vou querer findar.

Esse texto só seria mais legal se o aniversário do meu pai fosse sábado, mas é sexta. Porém, talvez isso seja ainda melhor: saber que há sempre mais um sábado por vir sempre me deixa feliz. Sexta, então, me parece um dia perfeito para comemorar todos os sábados que tive, e com a graça de Deus ainda desejo ter com meu pai. 

Se me cabe algum desejo ainda, desejo que as minhas palavras aqui façam outros refletirem e viverem os sábados que estão simples e sutis no dia a dia: no sol que brilha, na companhia, na conversa amiga, na refeição sadia ou na recordação de alguma boa memória esquecida.

Bom sábado e um certamente feliz dia!